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Caim e Abel

Posted by Flor de Lotus on 09:26

Caim e Abel se conheciam desde os tempos da faculdade e eram praticamente irmãos. Juntos criaram uma empresa de consultoria – ainda na faculdade -, juntos se formaram. Juntos decidiram vender sua empresa para uma grande consultoria e juntos decidiram virar sócios da empresa grande. Formavam uma parceira perfeita: Abel vendia projetos como ninguém; Caim colocava em prática como ninguém os projetos vendidos.
Assim foi durante muito tempo, até que Abel foi convidado a alavancar uma filial da empresa no exterior. Recebeu um enorme desafio, mas, confiante de sua capacidade, lá se foi. Aprendeu a língua e os costumes locais, ficou longe de sua família, perdeu muitas noites de sono, mas, depois de dois anos, a filial estava a plenos pulmões, dando lucro.
Nesse ínterim, Caim ficou tocando as coisas – bem como sempre – porém, como não sabia vender novos projetos, a empresa começou a ter dificuldades financeiras. Abel foi, então, convidado para uma conversa. O papo foi reto. O presidente propôs um novo desafio: voltar para o Brasil, salvar a filial daqui e demitir Caim, visto que ele não sabia vender.
Abel, estupefato, disse logo que essa não era uma boa saída. Afinal, Caim e Abel eram complementares. Se ficasse somente Abel, novos projetos seriam vendidos mas não haveria ninguém para executá-los, e o problema seria ainda maior. Abel fez uma contraproposta: reduza 50% do salário de cada um de nós ao invés de demitir um e me dê um ano para voltar a vender com antes. Se eu conseguir, você volta com nossos salários ao que eram. O presidente topou.
Enquanto isso, Abel retomou seus contatos e começou a vender. 11 meses depois da conversa fatídica, Abel foi chamado à sala do presidente mais uma vez. Achou que seria parabenizado, pois em um ano conseguiu superar a meta de vendas projetada e estabilizar financeiramente a empresa. Qual não foi sua surpresa quando viu Caim sentado na mesa do presidente. Caim informou-lhe que ele estaria demitido a partir daquela data e que ele, Caim, seria o novo presidente da empresa.
Abel perdeu o chão. Sentiu-se traído, praticamente morto. A essa altura, com quase 60 anos, quem o contrataria? E – pior – como esperar um golpe desses do seu amigo de 40 anos?
Abel decidiu tirar um ano sabático e pensar. Estava por demais frustrado. Há anos não tirava férias com a família, então arrumou as malas e partiu para uma viagem com todos, como antes o trabalho não permitiria. Na primeira semana de viagem recebeu um telefonema de outra grande consultoria, convidando-o para ser sócio de lá. Aceitou, claro, mas somente após seis meses de férias com a família. E lá se foi ele, trabalhando e conquistando espaço.
Já Caim, perdeu seu emprego seis meses depois, quando a empresa fechou sua filail no Brasil. Dizem que ele surtou quando percebeu que foi usado e ainda traiu seu amigo. Alguns comentam que tem um mendigo na Cinelândia muito parecido com ele...

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